Tuesday, March 06, 2007

Poetisa vocal

Sentimento cada vez mais suprimido e alijado pela consciência moderna, a melancolia tem espaço reduzido nas vidas imediatistas da humanidade. Em um mundo rápido e fragmentado, falta tempo para reflexões e preenchimento interno, algo que "Not Too Late" (EMI), – terceiro álbum da nova-iorquina Norah Jones –, nos oferece como alento. Longe de toda paranóia, fugacidade e correria, a cantora se isola no estúdio de gravação, e traz de boléia os encantos de sua arte recheada de sutilezas.

Norah mostra que o multiplatinado "Come Away With Me", álbum que a lançou como fenômeno da indústria, com mais de 20 milhões de cópias vendidas, era prenúncio de sentimentos ainda mais profundos, ou talvez, mais obscuros. "Not Too Late" comprova esta tendência a climas soturnos, e faixas como o single "Thinking About You" e "Wish I Could" despedaçam sem piedade almas das mais sensíveis.

Como projeto, no entanto, o Cd não aponta novas direções ou experimentos sonoros. Quarteto de cordas, pianos, instrumentos acústicos e a intervenção de sopros fazem novamente o universo sonoro para as canções de Norah. A cantora faz um álbum sem erros, mas que soa um tanto quanto preso. Um medo excessivo de correr riscos a impede de extrapolar limites em sua musicalidade.
Neste novo trabalho foram priorizadas as canções autorais de Norah, compostas ao lado de seu parceiro musical e namorado Lee Alexander. Em uma produção ainda mais intimista foram deixados para trás os covers e a leveza dos álbuns anteriores – produzidos por Arif Mardin, morto em 2006.


"Not Too Late" embarca em uma nova viagem, talvez mais difícil e sinuosa, porém encantadora. O disco revela seus mistérios a cada audição, e a concepção de cada música se desenlaça como em um prazeroso labirinto a ser percorrido. A teatralidade de canções como "My Dear Country" soam profundamente fantasiosas, mesmo com a conotação política contida nas letras. Assim acontece com "Sinkin`Soon", em sua atmosfera de fanfarras e cabarés.


Norah faz de "Not Too Late" um registro preciso de alguém que não perde a poesia de sua voz, mesmo quando esta não percorre canções, melodias e arranjos dos mais ambiciosos.


CDs da semana:
Charlotte Gainsbourg - 5:55 (2007)
Amy Winehouse - Back to Black (2007)
Albert Hammond Jr. - Yours to Keep (2007)

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

não encontrei pra ouvir, talvez seja minha incompetência virtual ou..não tem msm. mas fquei curiosa, e gostei mto da abertura do seu texto, realmente não tem mais espaço na vida de hj pra sentimentos como a melancolia e momentos mais intimistas..q pena, se perde tanto sem isso..

9:16 AM  

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