Ben Harper
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O show de ontem a noite fez o caipira e surfista gente fina, Donavon Frankenheiter, tornar-se um ser tão diminuto como qualquer um de nós, que resolve pelo acaso de um dia ensolarado pegar um violão e cantar algo doce para fazer uma graça com a namorada. A sensação da “galera do surf”, que ao entrar no palco era ovacionado, se tornou um simples garoto, que como eu cantava Beatles e tra lá lá. O fato curioso é que para 80% das pessoas que foram ao show, a divisa entre o que representa Donavon e Harper, era talvez percebida pelo fato de um ser negro e o outro branco, ou talvez que Harper toque sentado uma guitarra estranha, enquanto o bicho-grilo toca guitarra em pé. Para a maioria, os dois são ícones do surf music. Aquilo que simplificado, é um cara que toca uma viola e canta canções gostosinhas e assobiáveis.
Ao fundo da casa, uma legião de patricinhas gritava umas com as outras. Ajeitavam seus cabelos, conferiam modelitos, cochichavam e pululavam o ambiente. Flutuantes em seus vazios existenciais e tão desconectadas com a emoção e o sentimento que transbordava do palco, era constrangedor observar a torta platéia hip-chic.
O SHOW!
Enquanto gravava seu último trabalho, Both Sides of the Gun, Harper revelara ter encontrado um sentimento até então desconhecido: a ausência total de medo. E é assim que ele se comporta artisticamente. Não há regras para sua música, ela é tão funk, soul, reggae, pop e rock, que é muito mais Harper do que qualquer outra classificação. Balanceando o set list com canções de maior pegada como “Black rain” e a delicadeza de “Omen Amen”, Harper conduziu um verdadeiro “baile à fantasia”.
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A situação é espantosa. A profundidade de sentimento e talento do “super-astro invisível” é tão grande que sua música simplesmente se expulsa de seu corpo. Sua voz flui tão forte que uma multidão se fez entregue em meio a um silêncio arrebatador. Todos hipnotizados, enquanto Harper sussurrava baixinho seus versos, melodias e improvisos vocais. Magnetismo irreal, de alguém que não precisa nem da genialidade de sua guitarra para penetrar nas profundezas emocionais da platéia.
A versão ao vivo de “Waiting for you” soou ainda mais emocionante do que a registrada no álbum, enquanto a redentora “Better way” transformou o Claro Hall em uma verdadeira selva, e fechou o show da melhor forma possível. A tribalidade sonora da percussão de Leon Mobley e os gritos expugnantes de Harper engoliam e canabalizavam a platéia para dentro de seu universo. Depressão e euforia, a vida completa transbordava das notas inumanas de Harper e dos slaps e flicks do baixista Juan Nelson. Este, por sua vez, roubava vez por outra o show. Seu cantar doce e postura leve, nos confundia a todo instante. Como um humano toca um treco de quatro cordas com tamanha leveza e potência
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O Poder da Criação
“A música me ama,
Ela me deixa fazê-la
A música é uma estrela
Deitada na minha cama
Ela me chega sem jeito,
Quase sem eu perceber
Quando dou conta e vou ver,
Ela já entrou no meu peito
No que ela entra a alma sai,
Fica o meu corpo sem vida
Deitada na minha cama
Ela me chega sem jeito,
Quase sem eu perceber
Quando dou conta e vou ver,
Ela já entrou no meu peito
No que ela entra a alma sai,
Fica o meu corpo sem vida
Volta depois comovida,
Eu nunca soube aonde vai
Meu olho dana a brilhar,
Meu dedo corre o papel
E a voz repete o cordel,
Que se derrama no olhar
Fico algum tempo perdido,
Até me recuperar
Eu nunca soube aonde vai
Meu olho dana a brilhar,
Meu dedo corre o papel
E a voz repete o cordel,
Que se derrama no olhar
Fico algum tempo perdido,
Até me recuperar
Quase sem acreditar,
Se tudo teve sentido
Se tudo teve sentido
A música parte, e eu desperto
Pro mundo cruel, que aí está
Com medo de ela não mais voltar,
Mas ela está sempre por perto
Nada que existe é mais forte,
E eu quero aprender à medida
De como compõe minha vida
Pro mundo cruel, que aí está
Com medo de ela não mais voltar,
Mas ela está sempre por perto
Nada que existe é mais forte,
E eu quero aprender à medida
De como compõe minha vida
Que é para eu compor minha morte...”
P. C. Pinheiro
2 Comments:
Lipe,
Esse poema do P.C Pinheiro ficou até rídiculo perto do que você escreveu. Estou realmente impressionada.
Rótulos, esse é um dos problemas da crítica musical do Brasil. Ainda bem que você desconstruiu a história da surf music, mas pela sua descrição da platéia, a eles pouco importavam se era pagode, hip-hop ou surf music. E, bem lembrado, quando o Claro Hall vai melhorar sua acústica?
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