Lenine - Acústico MTV
De 1983 a 2006, se vão muito mais do que a representatividade numérica de oito discos lançados, vinte e seis anos de carreira e mais de quinhentas músicas compostas e gravadas, pelos maiores nomes da música brasileira da atualidade. Desfilando desde sempre canções enviesadas como traço marcante de sua antropofagia musical, Lenine conquista e mostra a força e beleza de seu canibalismo sonoro, tanto para o público estrangeiro, que o acolheu efusivamente, quanto para brasileiros.
Este cada vez mais, "carioca da gema", é reflexo da contemporaneidade e de cruzamentos musicais indissociáveis. O artista, é o espectro de uma emancipação pessoal fuzilada pelo pop/rock e provinda de uma infância musical predominantemente nordestina. Para o cantor, a arte é a procura do belo, seja na recriação ou na criação, Lenine esbarra em uma visão duvidosa do ineditismo.
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Para ele, seria impensável recusar o projeto MTV Acústico. O artista destaca como papel mais importante de seu novo trabalho, ter conseguido agregar uma vivência com os músicos que o acompanham: Pantico Rocha, há mais de dez anos na bateria, Junior Tostoi, há oito anos na guitarra e Guila, há três anos, levando a base da música de Lenine no baixo.
Há uma equipe por trás do artista. É a turma da invisibilidade, que para o cantor são os atores fundamentais para a realização do espetáculo registrado no DVD e CD, Lenine Acústico MTV.
“Sou um ser gregário, só sei fazer coisa com gente.”
É através desta frase introdutória, que partimos para entender a essência de sua universalidade musical. Como veste de sua alma, o artista despe e veste canções, do mesmo modo que cria e recria suas observações e palavras. Fica evidente, que não é só uma banda com alguém cantando. É a possibilidade de colocar o foco na banda, o que mais o deixa satisfeito. Existe entre os quatro, uma química, é o somatório de quando se juntam, que faz com que a música soe maior.
É através desta frase introdutória, que partimos para entender a essência de sua universalidade musical. Como veste de sua alma, o artista despe e veste canções, do mesmo modo que cria e recria suas observações e palavras. Fica evidente, que não é só uma banda com alguém cantando. É a possibilidade de colocar o foco na banda, o que mais o deixa satisfeito. Existe entre os quatro, uma química, é o somatório de quando se juntam, que faz com que a música soe maior.
O Acústico MTV - Lenine, conta com participações especiais de Iggor Cavalera na faixa “Dois Olhos Negros”, da harpista Cristina Braga em “Paciência”, da cantora mexicana Julieta Venegas e seu inseparável acordeão em “Medo”, além das presença do rapper Gog em “A Ponte” e de músicos como o baixista camaronês, Richard Bona” e os sopros do chileno, Victor Astorgia. Todos, fazem com que uma atmosfera de grandiosidade seja criada, ao redor da relevante simplicidade musical de Lenine.
Lenine: Em primeiro lugar, tenho que falar no Ruriá Duprat, que eu digo de brincadeira, que é como se fosse meu alter ego sinfônico. Porque em projetos com orquestra, ele que me ajuda a formatar as concepções musicais dentro de cada universo sinfônico. Ele fez um belíssimo trabalho de escrever pra cordas e pra metais e vocês vão perceber também que esse relevo musical que ele criou é muito oportuno, meticuloso.
Cada citação, cada melodia soa aqui como um contra canto da melodia original, ele preservou o som do quarteto. Quando chegaram os convidados a cama já tava bem feita. Era só deitar e rolar, e eu acredito, que dessa maneira foi mais fácil, já vínhamos de dois meses de trabalho para formatar este CD e DVD.
L. Felipe Reis: O que te motivou artisticamente a realizar este projeto. Foi a intenção de se utilizar de um projeto vitorioso que é o Acústico MTV para justamente levar sua obra a um maior numero de pessoas ou foi pelo prazer pessoal de retratar suas musicas, repaginar e rearranjar as canções?
Lenine: Foi pessoal, passional e artístico. Na verdade eu só trabalho assim, é a maneira como fui formado no meu núcleo familiar. Meu pai me ensinou algo que guardo até hoje. De tempos em tempos, temos que nos organizar para pensar, no que ele chamava de parada estratégica, para olhar o que vem fazendo e perguntar: porquê que você faz, o que é que você faz e pra quem que você faz? Tem sido assim o tempo todo da minha vida. E pra criar e compor, continuo sendo assim, nesse sentido, um romântico.
Com a música, tenho até hoje aquele prazer meio que juvenil do sentimento que rolava nas primeiras vezes que fazia meus shows e nas primeiras canções que compunha.
Mas, tem uma coincidência nisso tudo, porque eu vinha de outro projeto ao vivo e se eu fosse levar todas as considerações e leis de mercado talvez eu não fizesse este projeto, mas não é assim que roda a minha vida. Além do que, existem diferenças gritantes entre os dois projetos. O In Citte (gravado na França, 2005) foi formatado com canções inéditas desenvolvidas para aquele projeto, já para o Acústico MTV, não tive tempo para compor. Tinha dois meses pra entregar o projeto, pensar na roupagem, escrever o roteiro e então realmente não houve tempo para a inclusão de inéditas.
Em contrapartida, o tempo real quando você despe uma canção pra depois vestir é maior do que quando você apenas tem que vestir, uma canção inédita que você nunca cantou. É como o HD de um computador que esta em branco, não tem arquivo oculto ou coisas indesejáveis, e assim é mais fácil de lidar com isso. Canções como “Jack Soul Brasileiro” e “Hoje eu Quero sair Só” que eu canto há tantos anos e outras canções que não cantava há muito tempo, acabaram também por dar um aspecto de novo.
Novo, no entanto, é uma palavra esquisita. Um amigo meu diz que novo na verdade é aquilo que foi esquecido, por isso que tem sabor de novo. Ele também tem uma teoria interessante a respeito do ineditismo. Acredita que todo o “inédito” não resiste a uma boa pesquisa bibliográfica (risos). Tudo que você acha que é novo, só pode ser plagio! Neste processo de roupagem que elas soaram inéditas. As palavras, as sonoridades soaram diferentes justamente por causa deste processo.
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Lenine: Acho que é verdade pelo seguinte: Eu me identifico com essa idéia do compositor, pois justamente através deste exercício da composição que me estimulei a criar uma maneira de tocar, de cantar, de arranjar e dar corpo as canções, que me fez ser reconhecido.
Porém, isso não foi uma procura. Os parceiros próximos que começaram a perceber e me fazer notar o estilo de violão sujo, mais percussivo, que eu tocava. Na verdade, eu não estudei pra isso, é apenas mais um tentáculo dessa minha profissão de compositor, mais uma forma de me expressar dentro dessa profissão. Mais da metade das minhas músicas são feitas pra outras pessoas.
Apenas quarenta porcento do que crio tem o Lenine como intérprete, então esse fato de ser produtor, arranjador... são variantes desse exercício da composição, que me fez ser um cantor melhor também.
O violão nisso tudo foi fundamental e foi o meu veículo. Eu componho no violão, passo tempos com ele debaixo do braço, já é quase uma extensão do meu corpo, pego ele, começo a tocar, desafino as cordas e procuro os sons. Mais do que tudo é o meu veiculo de expressão, por intermédio dele que canto, componho e que toco.
L. Felipe Reis: Existe um melhor momento para compor?
Lenine: Pra compor, na verdade, eu gosto de um certo egoísmo. De você estar descobrindo as coisas. Eu gosto desse aspecto solitário de ficar num lugar mais fechado com no máximo duas cabeças e de utilizar aquela eletricidade entre as duas pessoas ou sozinho mesmo, a noite. Mas é algo que não dá para mensurar. Testar e perceber como o que você faz chega e atinge as pessoas se dá somente no palco, é lá que você pode sentir a reação das pessoas.
Eu na verdade, nunca toco de óculos e minha miopia ajuda nesse aspecto da timidez e também no sentimento, porque você acaba sentindo mais o feeling, o astral do lugar e das pessoas que é algo quase tátil realmente. O palco tem algo que é realmente insubstituível, de você perceber realmente como chega ao público àquilo que você faz.
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Lenine: Olha rapaz, eu fico é feliz. Você sintetizou de uma forma tão bonita que eu vou utilizar no próximo release, pelo menos te dou o copyright (risos). É na verdade, reflexo do que vivi da maneira como me formei. Morei até os 20 anos em Recife e isso com certeza ta inserido na minha vivência. Aliás, a imprensa faz questão de não esquecer disso, quando falam de mim, sempre começam com: O “pernambucano’ Lenine... E de alguma maneira, isso acabou adjetivando o que eu faço.
Sou pernambucano com muito orgulho e levo o Recife pra todos os lugares onde vou. Mas, o que é interessante, é que toda a minha carreira discográfica foi produzida e elaborada no Rio de Janeiro. É muito mais do que a metade da minha vida estando aqui no Rio. Sou cidadão carioca, tenho título de eleitor, meus filhos todos foram criados aqui, já tenho filhos bem grandinhos. Insisto pro maior pra vir um netinho, mas ele não cai na minha conversa. Mas, o fato é que às vezes eu acho que restringe.
Quando falam, por exemplo, de Arnaldo Antunes. Nunca começam: O “paulista” Arnaldo Antunes... e sim, o nome da pessoa. O D2, por exemplo, acho que a música dele é super carioca, mas não fazem referência ao “carioca” Marcelo D2. Isso não incomoda, mas na verdade eu acho que restringe de alguma maneira. A minha música tem diversos elementos.
Pra você ver um aspecto interessante: esse mesmo tipo de compreensão que o brasileiro tem em relação sobre o que é nordestino na minha música, quando eu toco fora do Brasil, ela se dilui. Se dá justamente o contrário, as pessoas se identificam com a minha música pelo que ela tem de não brasileiro. O cara quando identifica que ela tem Rock, Funk ou Soul ele se reconhece nela. Realmente desculpa, foda-se a língua que eu falo. Naquele momento ali o que importa é o DNA. A pessoa se reconhece, não pelo que é brasileiro, mas sim pelo que é exterior ao Brasil e portanto íntimo dele. Mas isso são rótulos, são ligações que acontecem, as vezes, “encheção de lingüiça”, mas isso não me incomoda. Mas, a minha vida se deu aqui no Rio de Janeiro. Eu sou cidadão carioca po!
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