Monday, April 03, 2006

Detroit 2006 - Os contadores de história


Enlameadas no pântanoso Rio Mississipi, blues-songs desenbocam no centro industrial de Detroit, onde os Raconteurs Jack White e Brendan Benson, unidos, capturam e reproduzem a essência bluesy. De um crueza sessentista encharcada nas raízes do Rock americano, desenvolvem melodias profundamente belas e por vezes soturnas. A aura envolta em "Broken Boy Soldiers" é escura , mas não por isso claustrofóbica, o sol parece se sustentar a cada canção iniciada, e por vezes brilha minutos a mais ante o crepúsculo que anuncia. White dilacera almas com vocais cortantes e guitarras amaldiçoadas, em cenários que remetem a estradas de ferro e campos lamacentos. Benson por sua vez, faz da sutileza melódica um bálsamo, para ouvidos sedentos de vocalizações melódicas provinda dos Beatles.

"Steady as she Goes", abre o disco da melhor maneira possível. Um baixo marcante provoca solos tortos e riffs secos da guitarra de Jack White. Um refrão grudento, acompanhado de uma métrica diferenciada e de guitarras distorcidas, dão peso ainda não visto nos trabalhos precedentes dos quatro integrantes. B
enson e White constroem um casamento vocal interessantíssimo, que se desenrola solidamente a medida que o álbum se desenvolve. A primeira oportunidade de se observar claramente esse trabalho, se revela na faixa seguinte, "Hands". Canção sensivelmente pop, que cresce gradativamente até o refrão. A partir daí o instrumental descansa e um solo vocal reverbera, numa mudança climática que acrescenta textura e molho a canção.
A partir daí, a sinuosa estrada de ferro dos Raconteurs começa a ser desbravada por sua "loucomotiva". "Broken Boy Soldiers", faixa título do disco, poderia ser designada a incorporar a trilha sonora de um filme clássico de terror-western. Jack White grita como uma bruxa das mais aterrorizantes, enquanto guitarras fantasmagóricas circundam o ambiente. A cada faixa, o ouvinte percebe a diversidade de influências que constroem os arranjos e melodias da banda.
"Intimate Secretary", só ajuda a confundir e intrigar. Para que lado iremos dessa vez? Esta, é a pergunta que perpassa nossas mentes a cada canção introduzida.

O disco vai ganhando forma e a curiosidade se torna evidente, uma banda começa a surgir e denunciar, a falta de experimentalismo e o excesso de regras da maioria das bandas de sua geração. A furada e babaca comparação com o Nirvana é sepultada de vez, em um caixão de ébano, cravado de pregos. Os Raconteurs experimentam sonoridades, timbres e vocalizações originalíssimas, e isso não faz deles e nem de "Broken Boy Soldiers" o disco do ano, muito menos da década, mas sim uma saudável oportunidade de navegar em ares renovados, longe de qualquer submissão estético-musical vigente.

"Together", é bela e sútil. Faz qualquer ouvinte mais anten
ado começar a se questionar, sobre um possível lapso ou ignorância musical, a respeito de quem seria Brendan Benson, e o porque do rapaz não constar até hoje em seu ordinário playlist, do ipod. A canção é pop, criativa e bem conduzida, Jack White acrescenta seu timbre de voz rascante ao fundo, enfatizando a linha melódica do refrão.

Sem qualquer aviso, monitores começam a se sacudir, "Level", faz balançar nosso corpo, devidamente conduzido por sua pungente simplicidade. A música nos arrebata e nos deixa sem maiores explicações, deixando ao menos uma herança musical à altura: "Store Bought Bones". A canção saculeja, estapeia e desnorteia sentidos, é tortuosa e insinua atalhos e direções musicais até então não desbravadas. Contrapontos de estilo entre Jack e Brendan, é que proporcionam o frescor sonoro da banda, uma alegria efêmera e breve conduz, uma a uma, as faixas do disco. "Blue Veins" fecha o álbum, e sintetiza aquilo que o move: um blues pesado, sentimental e agradavelmente arrastado, que percorre e transpassa com sucesso as encruzilhadas musicais dispostas pelos "contadores de história".

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