Lobão - Canções dentro da noite escura (2005)
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A maldição de Lobão volta a atacar e aterrorizar acomodados, desavisados e bundões de carteirinha. "Maldito" ou não, o paradoxal Lobão volta como sempre: idéias inteligentes, criativas e sonoridade mais roqueira e "moderna". Guitarras pesadas, efeitos, sintetizadores e violões acústicos dão o molho para a bossa-torta de "Canções dentro da Noite Escura"(Outracoisa).
O pano de fundo é o baixo Leblon, um palco frio, vazio e escuro, onde as sombras do velho lobo se materializam em cada esquina. O disco começa assim, uma noite baseada no roteiro zona sul carioca, um tamborim que batuca de mãos dadas com um violão sincopado, um rock-samba, ora samba ora rock, com passagens de um para o outro sendo executadas com maestria. Lobão descarrila melodias acompanhadas de sua lírica baseada numa visão outonal e escura do lugar onde vive. E olha que estamos falando do Leblon, onde o sol impera e o agito é notório; a visão é pessoal e por isso atípica ou ainda não registrada.
Como num ataque, Lobão aponta suas guitarras orientado-as ideologicamente a um antitropicalismo; como o próprio Lobo diz, não quer mais acolher uma representação caricata em que o Brasil e sua arte são até hoje representadas no exterior, de forma datada e forjada. A segunda musica é parceria póstuma com Cazuza, e vale mais pela curiosidade, mas não é das melhores canções do disco, sendo acompanhada pela estranheza melódica de “Depois das duas”, terceira faixa do álbum. Com "Boa noite cinderela" o CD torna-se interessante novamente, numa música que apresenta carga emotiva impressionante, densa, tortuosa, com guitarras e vocais que atacam a tudo e a todos, numa homenagem a Cássia Eller.
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Logo em seguida, temos "Homem Bomba", e percebemos que Lobão sabe como ninguém no cenário nacional fazer um rock vigoroso, com letra e melodia acima da média. A música é um petardo viciante, guiado por um riff atual, extraindo uma sonoridade inovadora no emprego da distorção. Seguimos então para “Vamos para o espaço”, mas a nave da canção voa longe, não acerta o alvo, porém se redime perto do fim, com versos que flutuam em uma melodia entorpecedora, e aí basta fechar os olhos e aterrissar já em redenção na maravilhosa “Você e a noite escura”, balada pop/rock que resgata o compositor nos tempos de "Me chama" e "Noite e dia".
A “Balada do inimigo”, canção seguinte, bombardeia o ouvinte com um riff poderoso e uma letra cheia de sacadas inteligentes, das quais algumas vale a pena refletir; “não há estilo sem fracasso” é apenas uma delas mas é a que melhor resume a conturbada carreira do cantor, marcada pelo ápice e pela queda. É nessa incerteza flutuante que Lobão se sente a vontade, o caos é a sua casa e a partir dele se reinventa e tira forças para ressurgir. Duas músicas contam com a parceria póstuma de Julio Barroso ex-Gang 90, são elas: “Quente” e “Não quero o seu perdão”. O compositor afirma que o clima não é de nostalgia, ao contrário, Lobão põe o parceiro para trabalhar utilizando seus poemas e os musicando de maneira estilizada.
É a noite de Lobão, um pós por do sol furioso, que se encerra com a possibilidade do sol voltar a brilhar, entoada na faixa final, canção com o título de: “A gente vai se amar”. É este o espírito do disco, quanto mais se ouve mais se ama as loucuras arquitetadas pelo poeta Lobão.