Thursday, May 10, 2007

Marilyn Manson - Heart shaped glasses (full video)

Tuesday, April 17, 2007

Dum Dum

Dôdo Ferreira iniciou seus estudos de contrabaixo em 1976 com o tcheco Rudolf Krouppa e logo começou a acompanhar renomados artistas da MPB. Em sua trajetória musical sobram referências e trabalhos. Dôdo gravou com artistas dos mais diversos calibres e tendências, como Paulo Moura & Martinho da Vila, Celso Blues Boy & B.B. King, Marcelo D2, e outros. Durante seis anos fez a direção musical do irreverente grupo “João Penca e seus Miquinhos Amestrados” e participou de turnês com Adriana Calcanhoto, Roberto Menescal, Miele e Wanda Sá. Ao lado de Tim Rescala, desde 1982 trabalha em gravações, peças teatrais e programas de TV.

Para a gravação de “Dum Dum”, seu segundo trabalho autoral (o primeiro foi Farofablues de 1993) o músico se apoiou no chamado interplay: “Sempre valorizei a capacidade de comunicação entres os músicos”. Assim, apostando na espontaneidade dos músicos que formam seu quarteto – Daniel Garcia (saxes e flauta), Marcos Tommaso (piano) e Pedro Strasser (bateria) – o disco capta a essência de uma apresentação ao vivo, com a gravação dos quatro instrumentos simultaneamente.

Como Charles Mingus, – maior ícone do contra-baixo jazzístico – Dôdo tem ligação estreita com a psicanálise, e faz de “Dum Dum” um “álbum-exercício” de auto-análise e homenagens pessoais. Passagens marcantes de sua vida são retratadas e dedicadas em forma de canção, a pessoas como seu pai – em “Cradle Song” – e à psicanálise de Lacan – “José no tempo lógico”. A belíssima e tristonha “O incrível Hulk” também rende homenagens, e, segundo ele, “foi composta sob uma atmosfera de perplexidade e dor”, após tomar conhecimento da morte do amigo e contra-baixista Maurício “Hulk” de Almeida.

Horas no mais puro jazz, outras transitando em blues atípicos, o contra-baixo de Dôdo constantemente reverencia a música brasileira e seus grandes compositores. Assim, o músico desenlaça texturas musicais brilhantes, em um álbum que revela a cada faixa seu rico universo particular. “Dum Dum” – forma como se refere ao som do contra-baixo – é simples e belo, como o nome. Um disco profundamente delicado e lúdico, guiado por fortes sentimentos, transcritos através de terapêuticas notas musicais.

Monday, March 26, 2007

Mais um?!

James Morrison é o típico “bom mocinho” inglês. Ar deprimido, melancólico e quase adolescente, ele é o cara que a indústria procurava para prosseguir em 2007 com a insípida, inodora e incolor linhagem de cantores folk/pop. Dada às devidas similaridades de aparência, o cantor poderia ser facilmente confundido com o chatíssimo e “agudo” James Blunt. Comparações com Paolo Nutini – outro moleque a se tornar sensação no Reino Unido, pela sua originalíssima e potente voz – também não seriam em vão.

No entanto, Morrison é mais do que seus contemporâneos, não que isto lhe garanta a tarimba de um grande artista, ou dê aval para algo do gênero. Sua voz, sim, é impressionante, e se não fosse por baladas oportunistas, “Undiscovered” poderia ser considerado um grande álbum.

Diferente do que alardeia as incendiárias publicações musicais londrinas, o álbum de estréia desse garoto de 21 anos esbarra na burocracia de arranjos e na previsibilidade de boa parte das canções. Baladas chicletes e ordinárias, que arrebatam teenagers num estalar de dedos, poderiam ser menos evidentes, e o álbum – que já vendeu duas milhões de cópias em todo mundo – mais enxuto. Canções poderosas como “Call the Police” e “If the Rain Must Fall” deveriam ser mais exploradas, já que nestas Morrison revela com clareza o poderio de sua voz, além de dar crédito a suas ótimas referências musicais como, Otis Redding, The Kinks, Van Morrison e Al Green.


No entanto, a satisfação de sua gravadora com o sucesso do single “You Give Me Something” freou a oportunidade de serem observadas suas mais interessantes composições e particularidades artísticas. Ligado o piloto automático, os executivos ingleses da Polydor desenfrearam uma sequência de três singles de fórmula musical repetida, que só fizeram Morisson descer a ribanceira de charts internacionais. Fato, é verdade, que não o impediu de receber três indicações ao Brit Awards de 2007 e faturar o prêmio na categoria de melhor artista solo masculino.

Dono de uma voz forte e doce, o bastante para se encaixar perfeitamente de acordo com que cada canção pede, Morrison segue a manjada cartilha que mistura Pop, Soul e Folk. O disco, portanto, é um prato cheio para as FMs do mundo todo, já que não há erros em sua interpretação, seu desempenho vocal é certeiro e convence. Depois do trauma psico-auricular causado por James Blunt em 2006, vale aqui à máxima:
melhor Morrison do que Blunt.

Confira: http://www.myspace.com/jamesmorrisonmusic

CDs da semana:
The Apples in Stereo - New Magnetic Wonder (2007)
Datarock - Datarock (2006)
Death In Vegas - Satan`s Circus (2005)
Klaxons - Myths of the Near Future (2007)
Vulgue Tostoi - EP 2007
Black Rebel Motorcycle Club - Baby 81 (2007)
Silverchair - Straight Lines (2007)

Monday, March 12, 2007

5:55

Filha do poeta e cantor francês Serge Gainsbourg e da atriz britânica Jane Birkin, a londrina Charlotte Gainsbourg foi criada estreitamente ligada aos encantos das artes cênicas e da música. Gravou seu primeiro álbum aos treze anos, “Charlotte Forever” (1986), inteiramente composto por seu pai. Dois anos antes fez o seu primeiro filme, "Paroles et musique" (1984), ganhou o Cesar Award de "Atriz revelação” pela sua participação no filme "L'éffrontée" (1986), e em 2000 voltou a ganhar o prêmio, desta vez de "Melhor atriz coadjuvante" no filme "La Bûche". Charlotte atuou também nos filmes “21 gramas”, “Lemming”, entre outros.

Agora em 2007, vinte anos depois de sua última incursão musical, chega tardiamente ao Brasil seu segundo disco, “5:55” (Warner). Lançado na França em agosto de 2006, este trabalho demorou mais de 6 meses para aportar por estas bandas – fato cada vez mais constante da nossa atrasada indústria, salve o Soulseek! –, assim como ocorreu com o novo trabalho da nova diva londrina Amy Winehouse, “Back to Black”, e com a moscovita, radicada em Nova Iorque, Regina Spektor que terá finalmente seu aclamado álbum “Begin to Hope” lançado por aqui.

“5:55” pode ser apontado sem erros como o disco mais delicado e sensual do ano. Produzido por Nigel Godrich – produtor e quase membro do Radiohead –, e com a colaboração do duo francês Air e de Jarvis Cocker, ex-Pulp, o novo trabalho realça a pequenez da voz de Charlotte. As letras ficaram a cargo dela e Neil Hannon; Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel (Air) escreveram as canções e o compositor canadense e pai do artista Beck, David Campbell, ficou a cargo dos arranjos de cordas. Para completar o time, o percussionista nigeriano Tony Allen – eleito por Brian Eno como o “melhor músico do planeta” –, tratou de comandar a seção rítmica de “5:55”.

O vocal macio de Charlotte é um charme a ser desvendado por ouvidos sedentos e suscetíveis a sussurros europeus ao pé do ouvido. As canções alfas-numéricas que abrem o álbum, “5:55” e “af607105”, apresentam o ouvinte aos deliciosos trejeitos e particularidas vocais de Charlotte, dispostos à medida certa no decorrer de todas as faixas. Charlotte canta em inglês praticamente em todo álbum, no qual se destacam as faixas “Beauty Mark”, “Everything I Cannot See” e “The Operation”. “Tel Que Tu Es” é a única canção interpretada em francês.

Charlotte não é uma grande cantora, no que se refere à extensão vocal, mas sua ousadia se revela na maneira de interpretar as canções. No minimalismo de suas divisões métricas e melódicas. Seus falsetes ressaltam as nuances climáticas das canções, e a mixagem do disco expõe sua voz frontalmente ao nosso primeiro plano auditivo. Podemos escutar o arfar de seus pulmões no preparo para imergir em cada nova frase melódica. A textura e a estrutura de sua doce voz podem ser apreciadas e absorvidas com enorme clareza.

Sem soltar gogós como uma “soul-jazz woman”, seus encantos repousam na intimidade, na maciez e no aconchego melancólico de seus versos e sussurros. “5:55” é um álbum repleto de romantismo, reclusão e sensibilidade, além de contar com as mentes musicais mais modernas e atuantes do cenário.

CDs da semana:
Air – Pocket Symphony (2007)
James Morrison – Undiscovered (2007)
Jarvis Cocker – Jarvis (2006)

Tuesday, March 06, 2007

Poetisa vocal

Sentimento cada vez mais suprimido e alijado pela consciência moderna, a melancolia tem espaço reduzido nas vidas imediatistas da humanidade. Em um mundo rápido e fragmentado, falta tempo para reflexões e preenchimento interno, algo que "Not Too Late" (EMI), – terceiro álbum da nova-iorquina Norah Jones –, nos oferece como alento. Longe de toda paranóia, fugacidade e correria, a cantora se isola no estúdio de gravação, e traz de boléia os encantos de sua arte recheada de sutilezas.

Norah mostra que o multiplatinado "Come Away With Me", álbum que a lançou como fenômeno da indústria, com mais de 20 milhões de cópias vendidas, era prenúncio de sentimentos ainda mais profundos, ou talvez, mais obscuros. "Not Too Late" comprova esta tendência a climas soturnos, e faixas como o single "Thinking About You" e "Wish I Could" despedaçam sem piedade almas das mais sensíveis.

Como projeto, no entanto, o Cd não aponta novas direções ou experimentos sonoros. Quarteto de cordas, pianos, instrumentos acústicos e a intervenção de sopros fazem novamente o universo sonoro para as canções de Norah. A cantora faz um álbum sem erros, mas que soa um tanto quanto preso. Um medo excessivo de correr riscos a impede de extrapolar limites em sua musicalidade.
Neste novo trabalho foram priorizadas as canções autorais de Norah, compostas ao lado de seu parceiro musical e namorado Lee Alexander. Em uma produção ainda mais intimista foram deixados para trás os covers e a leveza dos álbuns anteriores – produzidos por Arif Mardin, morto em 2006.


"Not Too Late" embarca em uma nova viagem, talvez mais difícil e sinuosa, porém encantadora. O disco revela seus mistérios a cada audição, e a concepção de cada música se desenlaça como em um prazeroso labirinto a ser percorrido. A teatralidade de canções como "My Dear Country" soam profundamente fantasiosas, mesmo com a conotação política contida nas letras. Assim acontece com "Sinkin`Soon", em sua atmosfera de fanfarras e cabarés.


Norah faz de "Not Too Late" um registro preciso de alguém que não perde a poesia de sua voz, mesmo quando esta não percorre canções, melodias e arranjos dos mais ambiciosos.


CDs da semana:
Charlotte Gainsbourg - 5:55 (2007)
Amy Winehouse - Back to Black (2007)
Albert Hammond Jr. - Yours to Keep (2007)

Thursday, March 01, 2007

Tenente Reznor













Trent Reznor e sua megalomania tecnológica voltam a atacar. Preparado para lançar seu sexto e “conceitual” álbum, - como se o Nine Inch Nails e seus trabalhos anteriores não o fossem –, Reznor declarou recentemente a imprensa que “Year Zero” marca o início de um novo processo criativo: cada vez mais livre das amarras da combalida indústria fonográfica, rótulos, formatos e feições comerciais radiofônicas.

O novo projeto aponta uma sonoridade distante daquela experimentada no excelente e subestimado “With Teeth”, lançado em 2005. Se “With Teeth” pretendia soar como uma orgia eletro-garageira, recheada de linhas de baterias e sintetizadores, “Year Zero”, por sua vez, não pretende soar como uma banda.

YEAR ZERO
Mais do que nunca, o novo trabalho ratifica o Nine Inch Nails como um autêntico projeto solo do multi-funcional Trent Reznor. Ele cuida de todo o processo, desde composição, arranjos, design sonoro e produção. Aliás, apenas dois anos de intervalo entre álbuns do Nine Inch Nails provam o quanto ele se aprofunda e explora sua capacidade criativa.

Longe dos danos causados por anos de alcoolismo, dependência química, e obsessões suicidas, que circundavam sua cabeça em momentos de sobriedade, Reznor formulou o conceito e produziu o novo trabalho ao longo da excursão para a promoção de “With Teeth”. A jornada de shows (já dura quase dois anos), que chegou ao Brasil no final de 2005 e arrasou o palco do festival Claro que é rock, foi o ambiente escolhido por Reznor para esta nova empreitada artística. Enclausurado em quartos de hotéis, Reznor compôs e gravou todas as novíssimas 16 faixas sozinho. Explicação para tamanha compulsão: “With Teeth” não havia esgotado nem sanado por completo suas inspirações musicais. Assim, seja!

Em meio a milhões de possibilidades, Reznor foi prontamente impactado pela idéia fixa de retratar e construir musicalmente o colapso e o conflito político-espiritual dos tempos pós-modernos. Em um brado feroz e retumbante contrário a América, Reznor cunha a expressão “Sobrevivencialismo” – “Survivalism” é o primeiro single –, como o marco de uma ideologia inconsciente, imposta à humanidade pelo seu país, os EUA, e suas desgraças psicologicamente orientadas.Debruçado em laptops, softwares e traquitanas musicais das mais variadas, Reznor decidiu que “Year Zero” – nas lojas a partir de 17 de abril –, seria um projeto pertencente a um plano maior, ainda não revelado, mas que poderá ser dividido em uma segunda edição prevista para 2008.

Trata-se de uma esquizofrênica idéia: uma trilha sonora para um filme que ainda não existe. As letras e mensagens fazem prenúncio ao fim do mundo, concretizado em um plano futuro, quinze anos adiante de 2007. O conceito profético, a priori ultrapassado, ganha redobramento de sentidos através da interpretação dramática e meticulosa de Reznor.

Simultaneamente minimalista e denso, “Year Zero” retrata a urgência de uma era povoada pelo curso natural da humanidade, onde a cobiça, a disputa pelo poder, e o descaso com o humano e a natureza, são dispostos sonoramente, numa ode ao caos e a calamidade humanística. A urgência de seu vocal, em confluência com arranjos eletrônicos pesados e arrastados, ganha crédito e validade a cada audição. Reveladoras de uma atmosfera claustrofóbica e apocalíptica, as “canções” não se encaixam em nenhum dos rótulos convencionados à banda, como metal ou industrial.

Sua edificação sonora não é constituída pela clássica tríade formada por baixo, guitarra e bateria, e sim pela potencialização de elementos sonoros distintos. Uma verdadeira colagem musical, que explora a força de batidas eletrônicas, loops e camadas de samples.
O álbum questiona parâmetros, e aponta novas direções e conceitos relativos à música e seus padrões de finitude. “Year Zero” é ficção científica, poética e alarmista conduzida por Reznor, diferente do último álbum, que mostrava um Nine Inch Nails mais acessível, mesclando a sonoridade pop a uma crueza eletrônica acachapante.

O projeto já conta, ao menos, com um bem estruturado planejamento de marketing. Em um ousado reality game, as faixas, “Survivalism”, “Me, I`m Not”, “My Violent Heart” e a belíssima “In this Twilight”, foram alocadas em pequenos pen drives, que vem sendo deixados em cabines de banheiros, nos shows que a banda realiza na Europa até dia dez de abril – dois dias antes do lançamento oficial do álbum. Os fãs esperam que até lá todas as faixas sejam disponibilizadas, enquanto o “tenente Reznor” se prepara para mais uma épica batalha contra os executivos de sua gravadora, que a esta altura, mordem suas testas e tentam afastar as angústias do paredão que se aproxima. É BBB (Big Boss Banish) by Reznor!

Confira: www.myspace.com/nin

CDs e DVDs da semana:
CDs:
Arcade Fire – Neon Bible (2007)
Sondre Lerche – Phantom Punch (2007)
Money Mark – Brand New by Tomorrow (2007)
Bloc Party – A Weekend in the City (2007)
The Good, the Bad and the Queen – TG, TB and TQ (2007)
Charles Mingus – Blues and Roots (1959)
Chales Mingus – Mingus, Mingus, Mingus (1963)
Charlie Parker & Miles Davis – Savoy Sessions (1947-48)

DVD:
Nine Inch Nails – Live: Beside You in Time (2007)

Wednesday, February 14, 2007

Do Lixão

Pedras rolantes não criam limo. E elas rolaram por solos cariocas, há exatamente um ano atrás. Assim como as pedras e riffs, que rolaram do palco montado na praia de Copacabana, muita areia resolveu criar asas e voar naquela noite quente de fevereiro. Disto, no entanto, tenho a certeza da própria pele como constatação. E foi em meio à revolta alheia e muitas garrafadas na cabeça, que curti o show de Sir Jagger e os “maracujás de gaveta” Ron Wood, Keith Richards e Charlie Watt, naquele longínquo verão de 2006.
Como a grande maioria de fãs cariocas (não vips), busquei com sacrifício um bom lugar para curtir o espetáculo, tarefa cujo grau de heroísmo, mediante as dificuldades, se tornou cada vez mais elevado. De minuto em minuto, era atrapalhado por selvagens urros de ambulantes, que berravam mais alto que Jagger, ao oferecer suor, cuspe, cerveja “long néti” a “dois real” e o que mais tivessem em seu atroz repertório.
Mas tudo bem. Fim do primeiro tempo de adaptação com o ambiente local, e da primeira trinca de musicas, com Jumping Jack Flash, It`s Only Rock n`Roll e You Got me Rockin. Resolvi então me deslocar, já que o som não gritava como o esperado, o que dava uma atmosfera fria ao espetáculo, apesar das imagens eletrizantes no telão e aditivos involuntários em meu cérebro.
Parti rumo ao centro do terreno numa arrancada ligeira, me desvencilhei de marcadores inflexíveis, que a cada passo tentavam impedir meus próximos dribles e jogadas. Mas como discípulo dos “dentuços”, consegui me safar, em busca de realizar meu gol de placa. Deparei-me então com um simpático contêiner de lixo, e foi do alto deste adorável objeto metálico e mal cheiroso, que curti de maneira fétida, porém agradável, a tão aguardada apresentação dos Stones.
Por culpa de uma forte exaltação de meu sentido olfativo, a música seguinte, Wild Horses, me fez refletir profundamente de como os tais cavalos selvagens de Jagger, por mais que livres de qualquer tratamento higiênico-veterinário, deveriam ser muito mais bem cheirosos do que o monte de merda humana ao qual estava depositado os meus pés. Analisei, também, cuidadosamente meu passado, e pude recordar da maneira idiota com que sempre desviei dos cagalhaços verdes espalhados pelas estradas da vida.
Resolvi, então, abstrair desta idiota comparação e curtir uma das mais belas musicas dos Stones. Daí pra frente o show foi espetacular. Rain Fall Down, música do mais recente e ótimo disco, A Bigger Bang, soou como um divertido clássico. Acompanhei a banda navegar por cima da área vip, em sua plataforma, e disparar clássicos do blues/rock como Brown Sugar, Midnight Rambler, e um surpreendente cover de Ray Charles. A partir daí, os sessentões ingleses partiram pro ataque e mostraram suas mais poderosas armas. Arrasaram com, Start me Up, o clássico satânico Simpathy for the Devil, e, a já desbotada, Satisfaction, no encerramento.
Aos 62 anos, Mick Jagger deu uma aula de como se comporta um “frontman”, assim como Iggy Pop, ano retrasado, na cidade do Rock. Jagger, no entanto, tem no seu repertório músicas de qualidade e pegada arrasadoras, e guitarras executadas sensacionalmente por Keith Richards e Ron Wood, ambas dando aval, mais do que suficiente, a seus rebolados e disparates corporais.
Tudo saiu nota dez para o dvd dos Rolling Stones, que até hoje não saiu. Um mar de gente os ovacionava a cada acorde introduzido. Um cenário deslumbrante, com barcos ao mar de um lado, e o Copacabana Palace iluminado do outro. Era o registro de uma atmosfera perfeita para uma festa pré-carnaval carioca.
Foi meu primeiro, e talvez único-último show dos Stones, por este motivo celebro esta missa-textual-católica, como forma de me lembrar de minha finada alma embebida pelas melodias stonnianas. Foi inesquecível curtir o grupo que, ao lado dos Beatles, revolucionou a música rock e a ofereceu de maneira contestadora ao mundo. Por mais que alijado da condição de vip e exilado a cem metros do palco, como bom carioca, improvisei meu restrito camarote-lixão, e valeu muito por este inusitado show.
No entanto, é triste perceber o quanto o Rio perde prestígio a cada ano. Coldplay e Aerosmith estão escalados apenas para fazer seus shows em São Paulo, assim como ocorreu com as apresentações do Oasis e U2, no ano passado. Restam-me, ao menos, boas lembranças de Jagger e Cia., e esperar, que o filho bastardo de "Mick e Iggy", Scott Weiland, suba ao palco do Claro Hall, à frente do Velvet Revolver, e despeje no público suas loucuras, trejeitos e o megalomaníaco Los Angeles Way of Life.